Ex-ministro e ex-presidente da Câmara Henrique Alves (PMDB)
Entre as centenas de políticos envolvidos
nos processos da Operação Lava Jato há uma “elite” de 42 nomes que apareceram
nas duas maiores delações reveladas pela Justiça até agora: as da Odebrecht e
da JBS. Na lista dos citados por sócios e executivos tanto da empreiteira
quanto do conglomerado do setor de carnes estão o presidente Michel Temer e
seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de
ministros, ex-ministros, governadores e ex-governadores, entre outros. De nomes
potiguares, são citados em ambas as delações o ex-ministro do Turismo e
ex-presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB), e o deputado
federal Fábio Faria (PSD).
Os integrantes desse clube de elite teriam recebido, em conjunto,
cerca de R$ 1,2 bilhão em propinas e contribuições oficiais de campanha,
segundo os depoimentos dos delatores. O dinheiro teria sido usado pelas
empresas para comprar influência ou como contrapartida por benesses recebidas
do setor público.
No ranking dos valores recebidos, quem se destaca é o ex-ministro
da Fazenda Guido Mantega, mencionado nas duas delações como intermediário de
doações em caixa 2 para campanhas eleitorais do PT e influente para intermediar
operações com fundos de pensão e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES).
Os depoimentos em que Mantega é citado o
relacionam a quase R$ 450 milhões em repasses. Nessa conta estão incluídos os
US$ 150 milhões – convertidos em reais pela cotação da época – que o
ex-ministro teria operado em nome de Lula e Dilma em contas no exterior, de
acordo com o relato de Joesley Batista, um dos donos da JBS.
O nome de Mantega também apareceu envolvido em supostos crimes no
relato de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da maior empreiteira do País.
Segundo ele, o ex-ministro “azeitou” um esquema para garantir que a Previ,
fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, aprovasse a compra de uma
torre comercial e shopping center em São Paulo da Odebrecht Realizações. O
negócio foi fechado em 2012. Em resposta, Mantega disse que a delação de
Odebrecht é uma peça de ficção.
Rio e Minas. O segundo nome de maior destaque nas
delações, em termos de valores implicados, é o do ex-governador do Rio Sergio
Cabral (PMDB). Ele teria recebido cerca de R$ 125 milhões, sendo R$ 98 milhões da
Odebrecht.
A seguir, com cerca de R$ 96 milhões associados a seu nome,
aparece o tucano Aécio Neves, senador afastado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) em razão das investigações sobre a JBS, ex-governador de Minas e
ex-candidato a presidente. Com base nos depoimentos dos executivos da
Odebrecht, foram abertos cinco inquéritos no STF para investigá-lo – o que o
tornou recordista em investigações ao lado do senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Na delação da JBS, Aécio é citado em pagamentos de propina disfarçados
em operações imobiliárias e de compra de espaço publicitário. O tucano também
aparece em uma gravação, feita por Joesley, na qual pediu R$ 2 milhões para
pagar sua defesa em processos da Lava Jato. Ao acertar os detalhes de quem
buscaria o dinheiro, o senador afirma: “Tem que ser um que a gente mata ele
antes de fazer delação”. A seguir, indica um primo para fazer a coleta dos
recursos.
Atual ocupante da cadeira presidencial, Temer é o personagem de
maior peso político a aparecer nas delações. Dois episódios citados nas duas
delações tiveram como palco o Palácio do Jaburu, residência oficial dos
vice-presidentes. O primeiro foi um jantar no qual Marcelo Odebrecht teria
acertado apoio financeiro ao PMDB nas eleições de 2014. O segundo, em março
deste ano, foi o diálogo entre Temer e Joesley, gravado pelo empresário, e que
mergulhou o governo em sua maior crise.
Defesa. Em
nota ao Estado, o Palácio do Planalto informou que presidente Michel Temer já
esclareceu que sua relação com as empresas Odebrecht e JBS foi “sempre
institucional”. “As eventuais doações de campanha feitas por esses grupos ao
PMDB ocorreram de forma oficial e foram declaradas à Justiça”, diz o texto.
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que sua
vida já foi devassada pela Operação Lava Jato com quebra de sigilos bancário,
fiscal e contábil e nenhum valor ilícito foi encontrado, evidenciando que o
petista é inocente.
“Sua inocência também foi confirmada pelo depoimento de mais de
uma centena de testemunhas já ouvidas – com o compromisso de dizer a verdade –
que jamais confirmaram qualquer acusação contra o ex-presidente.” Sobre as
afirmações de Joesley Batista, a defesa afirma que “não decorrem de qualquer
contato com o ex-presidente, mas sim de supostos diálogos com terceiros, que
nem sequer foram comprovados”.
A presidente cassada Dilma Rousseff afirma, por meio de sua
assessoria, que “jamais tratou ou solicitou de qualquer empresário, nem de
terceiros doações, pagamentos ou financiamentos ilegais para as campanhas eleitorais,
tanto em 2010 quanto em 2014, fosse para si ou quaisquer outros candidatos”.
A assessoria do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) não atendeu
aos contatos da reportagem. Em vídeo divulgado nas redes sociais nesta semana,
o tucano afirmou: “não fiz dinheiro na vida pública”.
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) chamou de
“mentirosos” os diálogos relatados pelo delator da JBS e afirmou que, ao
contrário do que afirmam delatores da Odebrecht, “não participou de negociações
sobre emendas legislativas para favorecer empresas públicas ou privadas. E não
autorizou o uso do seu nome em supostas negociações”.
Os demais citados negam as acusações. A reportagem não conseguiu
contato com a defesa do ex-ministro Guido Mantega.
Fonte: Valmar Hupsel Filho, Alexa Salomão, Daniel Bramatti - O Estado de S. Paulo
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