O Rio Grande do Norte registra um acidente com escorpião a cada duas horas, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap). Ao longo dos últimos três anos, todos os municípios registraram incidentes causados por este tipo de animal, o que significa uma taxa média é de 100 pessoas picadas escorpiões por grupo de 100 mil habitantes – uma das altas do País.

De acordo com os números da Sesap, Natal é a cidade com o maior número acidentes em todo o Rio Grande do Norte. Em 2018, o Estado contabilizou 4.711 casos. A capital potiguar, no mesmo período, registrou 2.731 casos, o que representa 57% do total de acidentes com o animal artrópode.

“É um número alto. Mas também precisamos da cooperação da população. É como no caso do combate da dengue, por exemplo. As pessoas precisam tomar medidas para evitar a proliferação deste animal, como o descarte irregular de lixo e o desmatamento de áreas verdes. Temos de evitar o aumento da quantidade de baratas nas áreas urbanas, que é o principal alimento dos escorpiões”, diz Josimeire Josino, responsável técnica do núcleo de animais peçonhentos da Subcoordenadoria da Vigilância Ambiental da Sesap.


Ao longo dos últimos três anos, o número de pessoas feridas por picadas de escorpiões aumentou 22% no Rio Grande do Norte – foram 3.859 casos em 2016. O número reflete uma escalada nos acidentes com o aracnídeo em todo o Brasil. Em todo o ano de 2018, segundo dados do Ministério da Saúde, o país registrou 141 mil acidentes com escorpiões. O número é 13% maior que o do ano de 2017, com 124 mil casos.
A espécie mais encontrada no Rio Grande do Norte é a Tityus stigmurus, o animal tem reprodução sexuada e é vivíparo – as fêmeas têm uma espécie de “útero” para o desenvolvimento dos filhotes. Entretanto, a espécie também tem uma característica incomum: a capacidade da partenogênese. Desta forma, caso fêmea não encontre parceiros, ela é capaz de gerar outras fêmeas por si só.
A preocupação das autoridades é que, entre os meses de dezembro e fevereiro, há uma maior proliferação destes animais pelas áreas urbanas, o que pode gerar novos acidentes. A explicação é simples: calor e umidade aceleram o metabolismo do escorpião. “As altas temperaturas deixam os animais agitados”, reforça Josimeire Josino.

Além disso, os animais são de hábitos noturnos e, no período das chuvas, buscam alojamento em locais mais protegidos, o leva ao aumento das ocorrências dentro de residências. Desta forma, os acidentes acontecem, geralmente, quando a pessoa encosta a mão ou pé no escorpião, quando este se encontra dentro de sapatos, peças de roupas, armários ou gavetas, por exemplo.

Em Natal, caso o ocorra um acidente com este tipo de animal peçonhento, a Secretaria Estadual de Saúde orienta que o público procure uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Em outras regiões do Estado, a orientação é buscar serviços de urgência ou emergência. “Houve a descentralização dos atendimentos para este tipo caso. Aí, antes disso, todo mundo procurava o Hospital Giselda Trigueiro, em Natal. Mas, caso se necessite do soro escorpiônico, o médico deve encaminhar o paciente para o Hospital Giselda Trigueiro.

Com relação aos óbitos, ainda de acordo com o Ministério da Saúde, quatro em cada 10 mil pessoas picadas morrem. No Rio Grande do Norte, segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), seis pessoas morreram em decorrência de ataques de aracnídeos ou artrópodes em 2016, data mais recente da pesquisa – a pesquisa inclui aranhas, escorpiões, centopeias e outros animais semelhantes.

O Centro de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde não tem ações específicas para o controle de escorpiões. O controle químico deste tipo de animal não é recomendado pelo Ministério da Saúde, pois os inseticidas são considerados ineficientes.

Uma das razões é de que os escorpiões têm a capacidade de fechar os estigmas pulmonares, responsáveis pela respiração, e evitar, com isso, a internalização do veneno. Outra contraindicação é o fato de que a aplicação excessiva de inseticida pode fazer com que tenham maior resistência aos produtos químicos.

“Fazemos orientações com relação aos cuidados e prevenção contra os acidentes com escorpiões. Não temos ferramentas químicas para o controle populacional. Com isso, nós contamos com a colaboração da população, pois o escorpião está ligado à sujeira. Se determinada residência tem muito entulho, lixo que atraia baratas, aí teremos escorpiões em grande quantidade”, detalha Alessandre Medeiros, do diretor do Centro de Zoonoses.

Ainda de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, para orientação como proceder em caso de acidente, a população pode solicitar informações através do telefone (084 98803 4140).

Dicas de prevenção – Dentro da residência (área interna)
Inspecione vestimentas, roupas de cama, toalha de rosto e banho, calçados, tapetes e panos de chão antes de usa-los;
Afaste camas e berços no mínimo, 10 cm da parede;
Não deixe lençóis ou cobertores sobre camas e berços que encostem ao chão, os escorpiões podem utiliza-lo como apoio para subir e abrigar-se no colchão ou entre lençóis de cama e travesseiros;
Limpe periodicamente ralos de banheiro, cozinha, caixas de gordura e quintal;
Feche frestas nas paredes, móveis e rodapés para que não sirvam de esconderijo para os escorpiões;
Evite acumulo de lixo, elimine restos de comidas nas mesas e no piso após as refeições;
Fora da residência (área externa)
Retire entulhos e folhas secas do quintal;
Coloque o lixo em sacos plásticos fechado para evitar baratas, principal alimento do escorpião;
Onde tem baratas, vai aparecer escorpiões;
Não coloque as mãos em buracos na terra, árvores e cupinzeiro entre espaços situados em montes de lenhas ou pedras, caso seja necessário mexer nesses locais, é sugerido o uso de pedaço de madeira, enxada e etc.

Evite queimadas em terrenos baldios, pois desalojam os escorpiões;
Preserve os inimigos naturais dos escorpiões (galinhas, gansos, corujas e sapos etc);
No local que aparece escorpião, use sapato fechado;
Caso entre em contato com escorpião, afaste-se com cuidado, e evite tocá-lo, mesmo que esteja morto.