Kelps Lima Deputado Estadual pelo Partido Solidariedade no Rio Grande do Norte No último domingo tivemos a inauguração, de fato...
No último domingo tivemos a inauguração, de fato, com público
pagante e futebol, na belíssima Arena das Dunas. Estádio lotado, os
maiores times da capital em campo, torcedores encantados com a beleza e
grandiosidade do novo parque esportivo do Estado. Não teve como não
gostar.
Entretanto, a Arena das Dunas foi e vai continuar sendo um
investimento de alto risco para o Rio Grande do Norte. Sua construção
foi um requisito necessário e obrigatório para sediarmos o maior evento
esportivo do planeta, a Copa do Mundo de Futebol. A Arena das Dunas nos
proporcionou uma oportunidade única e imperdível. Contudo, esse
investimento só será positivo se, agregado a ele, tivermos todo um
retorno para os vários setores da economia do Estado.
A construção da Arena das Dunas por si só, dificilmente trará algum
lucro, muito pelo contrário, deixará uma enorme dívida para o RN. A
compensação pela sua construção deveria vir de outros tipos de retornos
que a Copa pode trazer: obras de infraestrutura, campanhas educativas
para termos um legado cultural, qualificação da mão de obra no setor do
turismo, divulgação de Natal para todo planeta, Know-how em eventos de
grande porte, entre outros. Fizemos o dever de casa? Vamos conseguir
tirar todo o retorno que uma Copa do Mundo pode nos dar?
Não queremos que a Arena das Dunas seja como a compra de um lindo carro 0 km e 100% financiado, sem nada de entrada.
Quando alguém compra um carro dessa forma tem mais ou menos a mesma
sensação que todos estamos tendo com a nova Arena: orgulho pela
aquisição do objeto de desejo, cheirinho de carro novo, os amigos e
vizinhos invejando seu passeio com o possante novinho e brilhante. O
carro novo não tem nenhum ruído, os pneus ainda estão “peludos”, o motor
atende ao primeiro toque, todos querem usar.
Ocorre que, junto com o carro novo, vem o “carnê” com 60 pesadas
prestações para pagar, e depois de um ou no máximo dois anos, o carro
deixa de ser novo, os pneus precisam ser trocados, o cheiro de novo
ficou há muito para trás e o seu vizinho e seus amigos já não mais
elogiam seu possante. Depois desse período o ex-feliz proprietário do
carro novo não consegue sequer que o banco receba o carro de volta pelo
valor da dívida.
A Arena das Dunas foi construída assim, “comprada” 100% financiada,
através de uma parceria onde a construtora baiana OAS pegou o dinheiro
emprestado junto ao BNDES e vai receber do Estado R$ 10.000.000,00 (dez
milhões de reais) por mês durante 11 anos. Depois, por mais três anos,
outras parcelas mensais de R$ 2,7 milhões. Além disso, há uma garantia
mínima de lucro, baseada em um estudo de viabilidade. Se o estádio não
der o lucro esperado, o governo estadual garante a diferença. É um carnê
gigantesco que o Rio Grande do Norte adquiriu.
Contudo, tanto o carro quanto a Arena podem fazer valer a sua compra,
basta para isso renderem dividendos para os seus donos. Um carro novo,
na mão de um bom vendedor, pode lhe gerar ganhos que vão fazer com que a
compra seja um bom negócio, apesar do longo financiamento.
É bom destacar que, como o Governo do Estado fez uma PPP (parceria
público-privada) com a OAS, terá direito a 50% dos lucros com o uso da
Arena, ou seja, pode abater as prestações do recém adquirido carnê. Se,
por acaso, o estádio render R$ 22 milhões de lucro por ano, o Governo
não vai gastar um centavo pelo estádio. Se der prejuízo, o Estado paga a
conta sozinho.
A Arena, para dar retorno, tem uma equação bastante complexa. De
saída já pode se imaginar que é quase impossível esse lucro vir das
bilheterias dos jogos de futebol. A renda dos jogos do último domingo,
com estádio quase lotado foi de R$ 469.230,00; deste montante, R$
301.302,39 foram gastos (aproximadamente 65% do total) para a quitação
dos custos dos jogos.
O novo estádio terá na copa a capacidade para 42.000 pessoas e 31.375
depois do evento. Em sua inauguração recebeu 19.244 pessoas, mesmo
tendo ABC e América em campo. E sabe quantas vezes teremos esse estádio
lotado a partir do próximo ano? Pouquíssimas!
Para a Arena dar o retorno do gigantesco investimento feito é preciso
que o Estado saiba usar todas as oportunidades que a Copa oferece e,
infelizmente, algumas delas já foram perdidas. Quanto o Governo gastou
nos últimos anos divulgando o turismo do RN fora do Estado? Quais foram
as campanhas educativas patrocinadas pelo Governo nesse período para
termos uma herança cultural no trânsito, na coleta de lixo e no uso da
água, por exemplo?
Qual a mudança sentida por nós potiguares no nível de
qualificação dos trabalhadores na área do turismo? Quais os valores dos
recursos captados junto ao Governo Federal sem contrapartida ou sem ser
pela via dos empréstimos? Quais os grandes projetos promovidos pelo
Estado para alavancarmos o atendimento emergencial nas áreas de saúde e
segurança?
Queira Deus que os investimentos que vieram e o projeto de
viabilidade financeira da Arena (tomara que exista um!) livrem nosso
combalido Rio Grande do Norte de uma tremenda ressaca. E que, se tudo
der errado, que fique pelo menos DEFINITIVAMENTE uma lição: Precisamos
de governos que estejam prontos para desenvolver projetos complexos e de
médio e longo prazo. Fazer obra sem projeto, um bom projeto de
viabilidade, e com dinheiro financiado é o mesmo que comprar um carro
zero sem saber como vai pagar as parcelas. A diferença é que, o carro o
banco toma, leva a leilão e só o dono paga a conta. Já a Arena…. será
paga por todos nós!
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