Robinson Faria, governador do Rio Grande do Norte, negou que tenha recebido doações não declaradas na campanha de 2014 (Foto: Thyago Macedo/G1)
A empresária Eliane Alves Pereira confirmou à
Polícia Federal que recebeu da empresa JBS o pagamento de serviços prestados na
campanha de Robinson Faria ao Governado do Rio Grande do Norte em 2014. A
empresária, dona da E. A. Pereira Comunicação Estratégica, entregou à PF uma
nota fiscal no valor de R$ 2 milhões emitida para a JBS S/A.
Segundo ela, deste valor, R$
1,2 milhão é referente ao trabalho de marketing direto na campanha política e o
restante é referente a serviços prestados à marca Friboi, da JBS. O valor total
foi pago em setembro de 2014 por meio de depósito na conta da empresária. O
pagamento não consta na prestação de contas da campanha de Robinson Faria.
"Ela foi contratada para
prestar um serviço de marketing e esse serviço foi efetivamente prestado. Se
houve uma prestação tinha que haver o recebimento de valores. (...) Se houve um
possível caixa 2 isso deve ser apurado pelo Poder Judiciário que é o juízo
competente para apurar os fatos", disse o advogado da empresária, Marcelo
Torres.
A informação confirma parte
da delação
premiada de Ricardo Saud, ex-diretor de relações institucionais
da J&F, grupo controlador da JBS. O executivo afirmou que fez doações não
declaradas à campanha de Robinson Faria através de pagamentos a empresas de
terceiros, dentre elas a de Eliane.
Em nota, Robinson Faria
afirma que não recebeu doações não declaradas para a sua campanha nas eleições
de 2014 e que jamais solicitou qualquer doação ao delator Ricardo Saud que não
fosse doação legal. "As doações solicitadas à JBS foram todas pedidas
oficialmente, já que a JBS era a empresa indicada pelo partido PSD para fazer
as doações para a campanha ao governo em 2014", diz a nota. O governador
afirmou ainda que "as contas da campanha foram todas aprovadas pelo
Tribunal Regional Eleitoral e que confia no trabalho da Justiça".
As declarações da empresária foram tomadas pela PF em março deste ano
nas investigações complementares do inquérito 4618, no Supremo Tribunal
Federal, para confirmar a delação de Saud. No último dia 26 de abril, Saud
foi ouvido pela Polícia Federal, em Brasília, neste mesmo inquérito.
Ao deixar a PF, Saud disse à imprensa que foi um 'depoimento do dia a dia da
colaboração'.
Reunião em SP
A empresária relatou que foi contratada pela
campanha de Robinson Faria e cobrou R$ 1,2 milhão para prestar o serviço de
marketing direto no 1° turno da campanha. Segundo ela, o trabalho foi
efetivamente realizado e envolveu entre 200 e 250 pessoas.
Ainda de acordo com Eliane Pereira, o serviço
prestado à campanha envolvia estratégia de comunicação, geolocalização,
"porta a porta" e mensuração de dados e relatórios de análise. O
trabalho começou antes de qualquer assinatura de contrato e pagamento - o que
seria praxe em campanhas políticas, segundo ela.
Conforme o depoimento, a empresária cobrou o valor
da primeira parcela do pagamento, mas foi informada que a campanha estava sem
dinheiro. Então foi informada que teria que ir para São Paulo para apresentar a
importância do seu trabalho na campanha a um doador.
O doador em questão era o próprio Ricardo Saud e o
encontro aconteceu na sede da JBS, em São Paulo. Eliane afirmou que foi levada
à reunião pelo deputado federal Fábio Faria (PSD), filho de Robinson, que
estava envolvido na campanha do pai.
Ao apresentar o trabalho desenvolvido na campanha,
Eliane afirmou que foi elogiada por Saud e que ele quis que um serviço
semelhante fosse feito para a marca Friboi, da JBS, em estados da região
Nordeste. Neste mesmo dia, foi feito um contrato de R$ 2 milhões, que
contemplava os dois trabalhos: a campanha política e o serviço contratado pela
JBS. O contrato, porém, não citava a campanha. O pagamento foi feito em
setembro de 2014.
O G1 procurou o deputado Fábio Faria, mas ele
não se pronunciou até a última atualização desta matéria.
Delação
Em acordo de delação firmado
com o Ministério Público Federal em 2017, o executivo da J&F (grupo que
controla a JBS) Ricardo Saud afirmou que Fábio Faria e Robinson Faria receberam
doações não declaradas à Justiça Eleitoral através de pagamentos a empresas de
terceiros.
Acordo suspenso
O acordo de delação premiada
de Ricardo Saud com o Ministério Público Federal foi rescindido pela
Procuradoria Geral da República em setembro do ano passado por suposta omissão
de informações nos depoimentos.
Como a rescisão depende de
decisão do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, o acordo está,
na prática, suspenso.
A suspeita da PGR é que Saud
e Joesley Batista, dono do grupo J&F, omitiram a informação de que foram
orientados pelo procurador da República Marcelo Miller enquanto ele ainda
atuava no Ministério Público. Saud, Joesley e Miller negam a acusação.
Empresária confirmou que se reuniu com Ricardo Saud, diretor da JBS, em São Paulo para tratar do pagamento do serviço prestado à camapnha de Robinson Faria em 2014 (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Fonte:g1rn
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