O Ministério Público Federal (MPF)
ingressou na Justiça Federal no Rio Grande do Norte com uma ação de improbidade
administrativa contra o senador José Agripino Maia (DEM) e o empresário José
Adelmário Pinheiro Filho, o “Léo Pinheiro”, ex-presidente da OAS. O processo
trata do recebimento de quase R$ 1 milhão em propina, pelo parlamentar, em
troca de auxílio à empreiteira, responsável pela construção do estádio Arena
das Dunas. A obra foi erguida em Natal para a Copa de 2014 por um preço
superfaturado em R$ 77 milhões.
Em razão do foro por prerrogativa de função, a
denúncia contra o senador sobre o mesmo esquema teve de ser apresentada pela
Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF), que em
dezembro decidiu pelo seu recebimento (tornando-o réu sob acusação de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro). Somente então os autos foram remetidos à
Procuradoria da República no RN para as providências no âmbito civil da
improbidade administrativa em primeira instância.
A ação de improbidade impetrada no Rio Grande do
Norte pede a condenação dos dois réus por enriquecimento ilícito (artigo 9º,
caput e inciso I, da Lei 8.429/1992), com a perda dos bens ou valores
envolvidos (no total de R$ 904.224); perda da função pública; suspensão dos
direitos políticos de oito a dez anos; pagamento de multa de até três vezes o
valor do acréscimo patrimonial; e proibição de contratar com o Poder Público,
pelo prazo de dez anos.
Entre 2012 e 2014, José Agripino recebeu no mínimo
R$ 654.224 por meio de depósitos fracionados em sua conta e, pelo menos, outros
R$ 250 mil disfarçados em “doações eleitorais” ao Diretório Nacional do DEM,
presidido por ele. Em sua delação, o doleiro Alberto Youssef confirmou ter
enviado quantias em dinheiro a Natal (R$ 3 milhões entre 2011 e 2014), para
atender a “interesses” da OAS, que na época só possuía o estádio como obra de
grande porte no estado. Os depósitos para o senador foram exatamente em datas
próximas à vinda dos emissários do doleiro.
Entrave – A principal atuação de Agripino em prol
da empreiteira foi a ajuda dada na liberação de parcelas do financiamento do
BNDES para a obra, em 2013. Naquele ano, essa liberação dependia de um aval do
Tribunal de Contas do Estado (TCE-RN) quanto ao projeto executivo da arena.
Caso o tribunal apontasse sobrepreço ou superfaturamento, as parcelas seriam
suspensas.
A OAS, no entanto, não
havia apresentado ao TCE o projeto executivo completo e, dessa forma, não havia
como o tribunal atestar a regularidade. Léo Pinheiro, então, solicitou a
intervenção do senador e este chegou a reunir, em seu próprio apartamento, o
relator do processo no TCE junto com representantes da empresa e do Governo do
Estado.
O tribunal potiguar nada comunicou ao banco, nem ao
Tribunal de Contas da União (TCU), e os repasses do financiamento continuaram
ocorrendo normalmente. Somente em 2016 a área técnica do TCE-RN analisou os
elementos apresentados pela OAS e constatou sobrepreço e superfaturamento
totalizando R$ 77.532.187,35.
Relação – Durante a Operação Lava Jato, foram
resgatadas mensagens trocadas entre o senador e o empresário tratando de
encontros, troca de presentes e até mesmo a solicitação de uma aeronave para
fins particulares pelo parlamentar. Os dados telefônicos comprovam 124 chamadas
entre os dois, de 2012 a 2014. “Os elementos da investigação mostram que se
tratava de relacionamento baseado em troca de favores e benefícios espúrios”,
reforça o MPF.
Confira a íntegra da
ação de improbidade (0800812-23.2018.4.05.8400) clicando
aqui .
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