Marcelo Valeixo em foto de 10 de janeiro de 2018, quando era superintendente da Polícia Federal no Paraná, na sede da corporação em Curitiba — Foto: DENIS FERREIRA NETTO/ESTADÃO CONTEÚDO
O
diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Leite Valeixo, foi exonerado do
cargo. A exoneração ocorreu "a pedido", segundo decreto assinado pelo
presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, e publicado no "Diário Oficial da União" desta
sexta-feira (24).
Moro,
no entanto, foi pego de surpresa pela exoneração - que não ocorreu "a
pedido" como diz o Diário Oficial - e ficou indignado. O ministro não assinou a
demissão e não esperava que isso ocorresse nesta sexta.
Como o cargo é de livre nomeação do presidente, o ministro não precisaria
assinar o despacho. Moro pretende dar uma entrevista nesta sexta às 11h.
Na
quinta-feira, o ministro havia dito ao presidente que
pediria demissão se Valeixo fosse demitido, segundo informaram
as colunistas do G1 e da GloboNews Cristiana
Lôbo, Andreia Sadi e Natuza Nery. Oficialmente, o Ministério da Justiça nega
que Moro tenha chegado a pedir demissão.
Questionado
por apoiadores no fim da tarde, ao chegar à residência oficial do Palácio do
Alvorada, Bolsonaro não respondeu.
Não
foi nomeado um substituto para o comando da PF. Entre os nomes cotados estão:
·
Alexandre Ramagem,
diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele foi coordenador de
segurança de Bolsonaro na campanha de 2018 e se aproximou
dos filhos do presidente, mas não conta com o apoio de Moro;
·
Anderson Gustavo Torres,
secretário de segurança pública do DF;
·
Fabio Bordignon,
diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), que conta com a
aprovação e confiança de Moro.
Conforme
informou a colunista Andréia Sadi, Bolsonaro quer Alexandre
Ramagem para o comando da PF. O nome não tem o apoio de Moro, e
agora ministros da ala militar avaliam que o ministro da Justiça vai deixar o
governo.
O G1 questionou o Palácio do Planalto e o Ministério
da Justiça por e-mail, por volta das 6h50, sobre o motivo para a exoneração de
Valeixo, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Pouco
antes das 7h, Bolsonaro fez uma postagem numa rede social, mas ignorou o
assunto. O texto que ele publicou trata de obras entregues pelo governo
federal.
Bolsonaro, Moro e PF
Bolsonaro avisou a Moro que substituiria o diretor-geral da PF numa
reunião às 9h de quinta-feira.
Moro
resistiu. Relatos obtidos pelo blog da jornalista do G1 e da TV Globo Andréia Sadi
indicam que não
houve uma justificativa clara apresentada para a troca. Segundo
esses relatos, o problema para Bolsonaro não é Maurício Valeixo, e sim o
próprio ministro.
·
A intenção, segundo interlocutores, seria colocar na PF um nome
próximo do presidente. O atual diretor-geral é visto como o braço direito de
Sergio Moro na pasta. Com a troca, a avaliação é de que o sucessor não teria um
perfil similar.
Valeixo
foi superintendente da PF no Paraná durante a operação Lava Jato, quando Moro
era juiz federal responsável pelos processos da operação na primeira instância. O
ministro anunciou a escolha de Valeixo em novembro de 2018,
antes mesmo da posse do governo Jair Bolsonaro.
Ao escolher Moro para o cargo, em 2018, Bolsonaro
havia prometido "carta-branca", de modo que o trabalho
do ministro não sofresse interferências. Mas, desde então, Bolsonaro
e Moro acumulam divergências.
Em
agosto de 2019, Bolsonaro já havia feito uma primeira
tentativa de trocar o comando da PF, depois de a corporação
resistir a uma substituição na superintendência do Rio de Janeiro, que chegou a
ser anunciada pelo presidente, mas não foi concretizada.
Na
ocasião, Bolsonaro disse que "ele [Valeixo] é subordinado a mim, não ao
ministro, deixar bem claro isso aí. Eu é que indico, está na lei, o
diretor-geral."
Avaliação
da área militar
No Palácio do Planalto, ministros da área militar avaliavam, na
quinta, que a saída de Valeixo pode dar a impressão de que o presidente deseja
interferir na Polícia Federal.
Questionado
sobre o assunto no fim da tarde de quinta, o chefe da Casa Civil, Braga Netto
disse:
"A
pergunta sua é por conta dessas notícias que estão correndo. Vou te responder
simplesmente o seguinte: a assessoria do ministro Moro já desmentiu a saída
dele agora do governo. Tá? Já tá publicada essa informação."
Associações
reagem
Em nota divulgada ainda na quinta-feira, a Associação de Delegados
de Polícia Federal (ADPF) e a Federação Nacional dos Delegados de Polícia
Federal (Fenadepol) criticaram o retorno da então possível substituição do
diretor à pauta do governo.
"Essas
especulações, infelizmente, prejudicam a estabilidade da Polícia Federal, a sua
governança e colocam em risco a própria credibilidade na lisura dos trabalhos
da instituição. O problema não reside nos nomes de quem está na direção ou de
quem vai ocupá-la. Mas sim, na absoluta falta de previsibilidade na gestão e
institucionalidade das trocas no comando", diz o comunicado.
"Nos últimos três anos, a Polícia Federal teve três Diretores
Gerais diferentes. A cada troca ou menção à substituição, uma crise
institucional se instala, com reflexos em toda a sociedade que confia e aprova
o trabalho de combate ao crime organizado e à corrupção."
A
nota também pede que o Congresso aprove projetos que garantam um mandato por
prazo determinado à direção-geral da PF e a autonomia da corporação.
"Somente tais medidas irão proteger a PF de turbulências e garantir a
continuidade do trabalho de qualidade prestados ao Brasil", dizem as
entidades.
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