Sergio Moro em entrevista coletiva, em Brasília Adriano Machado/Reuters
O ministro da
Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro pretende anunciar nesta sexta-feira,
24, sua saída do governo Jair Bolsonaro. A intenção do ministro foi confirmada
por fontes ouvidas por VEJA. Moro convocou um pronunciamento para as 11 horas
no Ministério da Justiça. Será nesta fala que ele vai oficializar seu
desembarque do governo.
Acossado
por teorias de que pode ser traído a qualquer momento por seus auxiliares, Jair
Bolsonaro costuma dizer que nenhum ministro é insubstituível. No início do mês,
no auge do esgarçamento da relação com o então ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, o presidente afirmou que usaria a caneta para assinar a demissão de
subordinados que estavam “se achando” e tinham “virado estrelas”.
O recado da
ocasião tinha destinatário certeiro, mas não perdeu a validade. Pela lógica da
ala ideológica bolsonarista, se o governo sobreviveu à queda de Luiz Henrique
Mandetta do Ministério da Saúde, também poderia dar seguimento a um antigo
desejo do presidente, o de trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício
Valeixo.
Sergio
Moro reúne-se com o presidente Bolsonaro todas as quintas-feiras. Na última
delas, 23, recebeu do presidente a informação de que Valeixo seria substituído.
Mais popular ministro do governo, Moro, a quem a PF é subordinada, não gostou
do que ouviu e, conforme revelou VEJA, afirmou que “se Valeixo sair,
eu saio”. Diante da reação do chefe da Justiça,
Bolsonaro não recuou da intenção de trocar o comando da PF. Horas depois, a
exoneração de Valeixo foi publicada no Diário Oficial da União.
O
comunicado sobre a troca de comando na PF não foi a primeira vez que Bolsonaro
tentou se livrar do braço direito do ministro – no ano passado, dois delegados,
o atual chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem e
o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres,
deflagraram uma guerra de bastidores para ocupar nacos do arco de influência de
Moro.
Com o apoio de deputados da chamada bancada da bala, Torres chegou a se
reunir individualmente com Bolsonaro para tentar convencê-lo a cindir a pasta
de Moro em duas: a da Justiça de cunho eminentemente administrativo e que
poderia ficar com o ex-juiz da Lava-Jato, e a da Segurança Pública, o braço
operacional do ministério responsável por operações policiais, investigações e
recuperação de dinheiro desviado, todas áreas de atuação de Moro quando
magistrado, mas que não deveriam ficar com o ex-juiz. O atual chefe da Abin
conta com o apoio irrestrito do vereador Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois e
o mais influente da primeira-família em processos de convencimento do pai.
O episódio acabou
abortado em boa parte por intervenção do general Augusto Heleno. Na quinta, 23,
generais voltaram a tentar sensibilizar o presidente a não comprar briga com
Sergio Moro. A avaliação deles era a de que Moro ainda é a personificação da
Lava-Jato e sua demissão levaria o governo a perder a bandeira do combate à corrupção.
Nos bastidores, a cada vez que Moro é perguntado sobre a ingerência que
Maurício Valeixo teria nas investigações da Polícia Federal, ele se remete às
antigas administrações da PF e conclui que, a despeito de movimentos de
ministros petistas para barrar o avanço da Operação Lava-Jato, policiais
federais tiveram autonomia para tocar investigações.
As
movimentações para trocar o comando da Polícia Federal e, por tabela, desgastar
o ministro Sergio Moro ocorreram no momento em que acaba de ser aberto inquérito
para investigar de quem partiu o financiamento do ato antidemocrático de
domingo, 19, quando o presidente Bolsonaro discursou para manifestantes que
pediam a volta da ditadura. As investigações do inquérito, incluindo contra
dois parlamentares apontados como suspeitos pelo procurador-geral Augusto Aras,
serão tocadas pela Polícia Federal, que hoje está no centro do tiroteio entre o
presidente e o ministro.
A
investida de Bolsonaro contra Moro também coincide com a decisão do presidente
Bolsonaro de fazer acenos a parlamentares do chamado Centrão, que reúne
partidos como o PL, um dos protagonistas do mensalão, e o PP, legenda mais
implicada na Lava-Jato. A aproximação do Executivo com as siglas pilhadas em
escândalos de corrupção ocorre como parte de uma tentativa de desgastar o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tem protagonizado no Congresso a
aprovação de medidas de combate ao novo coronavírus.
No
auge das negociações na quinta-feira para a permanência de Moro no governo, um
ministro ironizava a demissão iminente: “Moro vai ter direito aos 600 reais
enquanto durar a pandemia?”
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