Aldeia Catu — Foto: Reprodução
A Covid-19 chegou à população indígena do Rio Grande do Norte. De
acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do RN (Apirn), já são pelo menos
quatro casos confirmados da doença, dez suspeitos e uma morte de um indígena
não-aldeado provocada pelo novo coronavírus, até a manhã desta quinta-feira
(14).
A
primeira morte de um indígena no estado por coronavírus foi registrada na noite
de quarta-feira (13). Trata-se de um índio urbano da etnia Potiguara, que
morava em Natal. Ele fazia parte de uma das 46 famílias indígenas urbanas e
não-aldeadas que vivem na Zona Norte da capital. As informações foram
confirmadas por Apirn, Articulação de Povos Indígenas do Nordeste (Apoinme) e
também pelos familiares da vítima.
Aldeia Catu fica entre Canguaretama e Goianinha — Foto: Reprodução
Ao todo, o Rio Grande do Norte tem 14 aldeias espalhadas em nove
municípios com 6 mil pessoas das etnias Potiguara, Tapuia Paiacu e Tapuia.
Outros 2 mil índios vivem em centros urbanos (não-aldeados), totalizando assim
cerca de 8 mil indígenas no estado inteiro. O mapeamento foi feito pela
Articulação dos Povos Indígenas do RN e pela Articulação de Povos Indígenas do
Nordeste junto aos líderes das aldeias.
A
aldeia Catu, que fica entre as cidades de Goianinha e Canguaretama, na Região
Metropolitana de Natal, concentra duas confirmações e 10 suspeitas da doença.
Os dois indígenas que testaram positivo para a Covid-19 estão cumprindo
quarentena domiciliar. Um precisou de atendimento médico na capital.
"É
uma situação que nos preocupa bastante porque temos muita subnotificação. As
aldeias são lugares fechados onde o risco de proliferação dessa doença é
altíssimo. Temos 10 casos suspeitos e é provável que teremos mais porque o
controle é difícil e o acesso aos testes é muito complicado. Além disso não
temos demarcação de terra. Precisamos testar a população para impedir um
contágio em massa", detalha Luiz Katu, cacique da aldeia Catu.
O outro caso confirmado da Covid-19 está na aldeia de Sagi,
localizada na cidade de Baía Formosa. O paciente cumpriu o período de
isolamento social e já é considerado recuperado. A chegada da pandemia nas
comunidades indígenas acende o sinal de alerta entre as lideranças locais, que
pedem apoio do poder público.
"Estamos
reunindo essas informações e pediremos ajuda junto aos governos municipais,
estadual e federal. Existem comunidades que não têm acesso a um posto de saúde
porque são muito afastadas, nesses casos uma equipe médica vai lá uma ou duas
vezes no mês e aí se passa muita necessidade", afirma José Carlos,
indígena da etnia Potiguara e representante da Apoinme no estado.
Ainda
segundo José Carlos, que também preside o Conselho Municipal de Saúde de João
Câmara, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), subordinada ao
Ministério da Saúde, deixou de atender as comunidades indígenas do Rio Grande
do Norte desde janeiro de 2019. "A gente tinha esse atendimento desde
2015, que era feito pelo distrito da Paraíba, mas eles nos disseram que tiveram
que parar por falta de recursos", conta José Carlos.
O G1 consultou a assessoria
de imprensa da Sesai sobre a suspensão nos atendimentos médicos às aldeias
potiguares, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.
Prevenção
Barreira para orientação das pessoas que cruzam a aldeia Catu — Foto:
Cedida
Embora,
tradicionalmente, os índios dominem técnicas de isolamento, os cuidados
precisam ser redobrados nas aldeias, segundo o cacique Luiz Katu. "Temos
muitos idosos e isso já é uma preocupação a mais porque as comunidades são
fechadas e as pessoas são muito próximas umas das outras. Antigamente o índio
podia se isolar e aguardar o filtro natural da natureza para essas doenças, mas
hoje não podemos fazer isso porque não temos floresta", acrescenta.
Na
aldeia Catu, que concentra doze notificações entre suspeitos e confirmados, a
população montou uma barreira por conta própria para controlar o fluxo de
pessoas que utilizam as estradas da região para acessar outras comunidades.
Eles param os veículos, orientam sobre os riscos, fazem desinfecção com álcool
em gel e também oferecem máscaras. A mobilização tem viés educativo.
Na
comunidade Tapará, também há preocupação em relação à chegada do coronavírus. A
aldeia fica em Macaíba, cidade da Grande Natal que já contabiliza três mortes e
31 pessoas infectadas. "Também estamos organizando o fluxo das pessoas
porque o medo é grande. A gente está se cuidando, usando máscaras e álcool em
gel para evitar o contágio porque sabemos que seria muito difícil
controlar", diz a líder indígena Francisca Bezerra.
Sobre as
reivindicações dos líderes que cobram melhora na assistência social e médica
dentro das comunidades, a reportagem do G1 entrou em contato
com o Governo do Rio Grande do Norte e aguarda resposta.
fonte:g1rn
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