De modo
deliberado, o Ministério da Saúde atrasa sistematicamente a divulgação do
balanço diário dos dados da Covid-19 no momento em que o Brasil atravessa o
período mais agudo da pandemia. Com 1.473 mortes diárias registradas, país bate
mais um recorde e acumula mais de 630 mil casos da doença, 30 mil em apenas um
dia.
Em nova demonstração de desrespeito
ao povo brasileiro e às vítimas da Covid-19 no país, o presidente Jair Bolsonaro consolida a estratégia de sabotar o combate da
mais grave crise sanitária dos últimos 80 anos.
De modo deliberado, o Ministério da
Saúde vem atrasando sistematicamente a divulgação do balanço
diário dos dados da Covid-19, no momento em que o país atravessa o período mais
agudo da pandemia. Na
quarta-feira (3), a pasta informou que atrasaria a atualização dos números por
“problemas técnicos”. Às 22h, o ministério anunciou o triste recorde de 1.349 mortes.
Na quinta (4), os “problemas” aparentemente se repetiram e os números voltaram
a ser divulgados às 22h, levantando suspeitas de que, com a explosão de casos e
mortes, o governo federal pretendia evitar a
cobertura noturna da imprensa, sobretudo dos telejornais.
A suspeita de
sonegação de informações foi confirmada na manhã desta sexta (5), um dia depois
de o país bater o terceiro dia de recordes e ultrapassar a Itália em óbitos.
Segundo reportagem do ‘Correio Braziliense’, a ordem para atrasar a divulgação
de boletins epidemiológicos partiu diretamente de Jair Bolsonaro. De acordo com uma fonte no
alto escalão do governo ouvida pelo jornal, a decisão é permanente.
“A estratégia da
Presidência é evitar que os dados estejam disponíveis no horário dos telejornais
noturnos, período em que as televisões têm maior audiência, pois muitos dos
brasileiros estão em casa”, revela a reportagem. “Mesmo sem anúncio oficial, a
ordem foi dada para que os dados sejam enviados à imprensa apenas no final da
noite, mesmo que estejam prontos às 19 horas”’, aponta o diário de Brasília.
“Esse atraso do
Ministério da Saúde na divulgação do balanço da
covid-19 é proposital”, criticou a deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, ainda na quinta-feira
(4). “Tivemos ontem [quarta] 1.349 mortos e o número saiu só às 22h, após quase
todos os telejornais da noite, para abafar a repercussão. Não fizeram nada para
conter o vírus e agora querem esconder o caos do povo”, lamentou.
Na noite de
quinta-feira, foram registradas 34.021 mortes, com 1.473 registros de vítimas
fatais em 24 horas. O país agora tem mais de 630 mil casos, 14 mil a mais do
que o último balanço. Também foram contabilizados 30.925 novos casos de quarta
para quinta-feira.
O afrouxamento na
divulgação dos balanços vem ocorrendo gradativamente nos últimos meses, em
contraste à escalada acelerada da doença. Quando Henrique Mandetta ocupava o
comando da Saúde, a praxe do titular e sua equipe era dar uma coletiva diária,
na qual apresentavam um balanço do avanço da pandemia no país. A coletiva e a
divulgação do boletim ocorria às 17h. Com a saída
de Mandetta, as coletivas deixaram de ser diárias e os números passaram a ser
liberados mais tarde, por volta das 19h.
Depois que Nelson
Teich foi defenestrado do comando da pasta, em maio, o general Eduardo
Pazuello, nomeado ministro interino, entendeu o recado de Bolsonaro. Sob sua
responsabilidade, o interino passou a atrasar ainda mais a liberação das
informações sobre o andamento da pandemia. Na semana passada, o site foi
atualizado por alguns dias bem depois das 20h. Até que o ministério
oficializou, sem maiores explicações, o novo horário, 22h, confirmando a
invencionice por trás dos “problemas técnicos”.
Caged
O apagão de dados
do governo federal não é novidade no desgoverno de Bolsonaro. Em abril, o PT denunciou a falta
de transparência do governo na
divulgação de dados sobre o mercado de trabalho registrados pelo
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), suspenso desde 30 de
março. Com o apagão, a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e os líderes da legenda na Câmara,
deputado Enio Verri (PR), e no Senado, Rogério Carvalho (SE), apontaram
ofensa à moralidade administrativa diante da omissão do Ministério da Economia.
Os três entraram
com uma Ação Popular 20ª Vara Cível da Justiça Federal cobrando
apresentação dos dados. O governo alegou que as empresas deixaram de repassar
as informações sobre emprego para o Caged após a mudança
das operações de registro para a plataforma eSocial.
Do mesmo modo que
ocorreu no setor do trabalho, com a falta de dados dificultando o mapeamento do desemprego no país durante a pandemia, a sonegação de
informações referentes ao coronavírus prejudica a formulação
das estratégias de resposta à disseminação do vírus, bem como as pesquisas e
projeções de especialistas que norteiam autoridades de saúde e do próprio
governo.
“Na pandemia, a
divulgação de dados oficiais envolve, além do dever de prestar contas, uma
questão de saúde pública”, afirmou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, pelo Twitter. “Dados do Ministério da Saúde são fundamentais às
respostas à Covid-19 e devem estar abertos ao público, aos gestores e,
portanto, à imprensa de forma consistente e ordenada”, lembrou Mendes.
Pandemia longe do
fim
Em meio a mais um
entrave ao combate ao coronavírus criado – de propósito, como ficou evidente
pela reportagem do ‘Correio’ – por Bolsonaro, a pandemia mantém o ritmo
avassalador de contaminações no país. Nesta sexta-feira (5), a Organização
Mundial da Saúde (OMS), voltou a alertar para a letalidade
do vírus e advertiu que a pandemia está muito longe do fim.
“Só acabará quando
não houver vírus em todos os lugares do mundo”, afirmou a porta-voz da OMS,
Margaret Harris, em coletiva de imprensa realizada em Genebra, na Suíça. “Todas
as coisas que temos dito (ainda) se aplicam. A melhor precaução é ficar a um
metro de distância um do outro, lavar as mãos, garantir que você não toque na
boca, nariz e olhos”, ressaltou Harris.
A porta-voz também
classificou as expansão desenfreada da doença nas Américas, hoje o epicentro da
pandemia, como “profundamente perturbadoras”. Harris afirmou que os testes em
massa são fundamentais e que os governos precisam urgentemente “testar,
rastrear, encontrar todos os que potencialmente pegaram o vírus”.
“Se você tem uma
enorme transmissão comunitária, o que faz você pensar que é difícil testar
todos, foque e descubra onde há áreas mais intensas, áreas onde a transmissão
ocorre rapidamente”, argumentou Harris, lembrando a necessidade de as
autoridades de saúde continuarem informando sobre medidas para evitar novas
contaminações.
Da Redação, com informações de
Correio Braziliense e Nações Unidas
0 Comentários