Dona Dadi foi além dos bonecos tradicionais ao dar forma a
marionetes de fios e varas
Morreu nesta
terça-feira a artista popular Mestra Dadi, aos 82 anos, pioneira na tradição do
teatro de bonecos no Rio Grande do Norte. Maria Iêda da Silva Medeiros era a
única representante mulher na criação e manipulação do João Redondo no Estado,
além de nome com prestígio no meio acadêmico universitário, pela versatilidade
de sua arte e poesia.
A trajetória de Dadi está fortemente ligada
a genealogia do teatro de mamulengos, que no Rio Grande do Norte é denominado
João Redondo. "Dona Dadi tinha o dom de fazer rir", declarou Graça
Cavalcanti, estudiosa do tema, em live realizada ano passado para o Museu
Câmara Cascudo.
Além do João Redondo, ela era poeta
conectada com as questões do meio ambiente e da cultura em comunidade.
Atualmente seus personagens estão preservados na coleção de bonecos que pertence
ao acervo do Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, da Prefeitura do Natal.
Para o Secretário de Cultura Dácio Galvão, dentro do universo do Teatro de Bonecos, "Dadi era uma referência e muito nos honrou com seu trabalho e obra expostos no Museu Djalma Maranhão”.
Em 2020, a potiguar foi homenageada no 2º
Seminário de Teatro de Animação, realizado em Joinville, Santa Catarina. Há
alguns anos a UFRN lançou um vídeo e editou o livro de poesia “Flor de
Mucambo”. Já o “Dadi Teatro de Bonecos, Memória, Brinquedos e
Brincadeiras”, publicado pela Gráfica Manibu no festival Agosto da Alegria, da
FJA, foi resultado da dissertação de Graça Cavalcanti.
Capitão X Nêgo Baltazar
O João Redondo é uma forma de expressão do
teatro popular de bonecos, marcado pela influência da estrutura dramática da
commedia dell’arte, combinando ritmos e personagens da cultura popular local ao
utilizar bonecos que encarnam personagens e através da vocalidade do brincante.
Segundo definição do professor Luiz
Assunção, o enredo do teatro de João Redondo gira em torno da relação
entre o Capitão João Redondo, fazendeiro, e o Nego Baltazar/Benedito, que, na
maioria das histórias, é seu empregado, construindo representações sobre as
relações de dominação-dominado e a inversão de hierarquias, no texto obra em
performance.
"Dadi, ao realizar sua brincadeira,
cria personagens, elabora suas apresentações. Mas também se tornou conhecida
por sua arte de fazer bonecos, no qual se destaca por extrapolar os habituais
bonecos de luvas, ao dar forma a marionetes de fios, de vara, em bonecos de
grande porte. Apenas uma mulher – Dadi, nessa linhagem que inclui o mestre
Bastos (Sebastião Severino Dantas), considerado um dos primeiros que se tem
notícia, mestre Zé Relampo, mestre Chico Daniel (Francisco Ângelo da Costa),
mestre João Viana, entre outros.
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