Em 2018, cansei de dizer que Zenaide Maia era favorita ao senado. Depois
que Styvenson Valentim entrou na disputa, passei ao prognóstico de que os dois
seriam os prováveis eleitos. Apanhei muito por isso, mas após a abertura das
urnas a razão ficou clara.
Era evidente que a base lulista elegeria um senador
e a “nova política” outro. Não existia espaço para Garibaldi ou Geraldo Melo,
nomes que seriam – como foram – varridos pelo espírito daquela época.
O Rio Grande do Norte tem um histórico pouco
realista de levantar balões de ensaio de candidaturas durante o momento
pré-eleitoral, que faz parte, como diria o bom filósofo, de um mito do eterno
retorno. Fala-se em “estrutura”, modalização para dinheiro, número de prefeitos
e apoio partidário. É lógico que são aspectos que contam. Só que tudo é
especulado como se fosse possível desconsiderar a imagem, aquilo que se chama
de “serviço prestado” e o contexto significativo.
Para 2022, a mesma ideia de que tudo pode ser
resolvido por cima – sem combinar com o eleitor – se estabeleceu. Quando o
sentimento do cidadão é levado em conta, os articulistas e estrategistas
restringem seu arco apenas aos que residem no eixo natalense Tirol-Ponta Negra.
No máximo, saem levantamentos sobre Natal. Os demais são pintados como facilmente
carreáveis por lideranças locais ou regionais, partindo de uma suposta força e
uma capacidade de transferência, salvo raras exceções, que eles normalmente não
têm. Aliás, isto é ótimo para essas pessoas que podem “cobrar” caro pelos seus
passes.
O fato concreto é que dos nomes postos,
praticamente nenhum têm viabilidade eleitoral. Sejamos claros e objetivos,
avaliando as chances de cada um dos postulantes.
Para o governo, Fátima Bezerra é favorita. Ela tem
colocado ordem na casa e é a única com entrada dos nomes apresentados em todo o
RN. Faz, além disso, uma gestão bem melhor do que as anteriores. Daí todo o
trabalho da oposição para turvar tal aspecto com muita fumaça e informações
falsas. Tal estratégia tende a ser ampliada. É a única chance da oposição.
O prefeito de Natal, Álvaro Dias, pode partir de
uma base na capital. Porém, terá muita dificuldade para ingressar nas demais
regiões do RN. Trata-se de uma ação muito arriscada para ele. Ele parece
inclusive ter desacelerado na possibilidade de disputar o governo. Tem
aparecido menos.
O mesmo pode ser dito para Carlos Eduardo Alves,
que já parte de um recall, mas terá a desvantagem da vitrine da atual
governadora bombar em 2022.
O senador Styvenson Valentim deverá sair candidato
ao governo. Aliás, depende disto para formar um recall em prol de sua reeleição
para o senado. Perdendo ou ganhando, para ele será bom ser postulante e sua
candidatura é irreversível por essa perspectiva. Falta-lhe, contudo,
maturidade. Ele é bolsonarista sem ter a vinculação de seu nome ao governo
Bolsonaro. Tende, neste sentido, a ganhar com as investidas bolsonaristas
operadas pela oposição ao governo Fátima, ainda que não seja a intenção dos
militantes do “mito” no RN ajudar o ex-capitão da lei seca. O ingresso no
interior do RN lhe tirará competitividade. Por fim, Styvenson segue
desvinculado de uma agenda fundamental, que será operada em 2022 – emprego,
renda e assistência social. Tal agenda será abocanhada por Lula e sua base em
2022 aqui no RN.
Para o senado, os candidatos saídos da base de
Bolsonaro não terão chances. O contexto é horrível para eles. Diante da crise
econômica e pandêmica, o presidente escolheu a cloroquina. Sua avaliação segue
no chão numa região como a nossa, que tem histórico lulista. Para que eles tenham
alguma chance, é fundamental que a economia chegue bombando, com a riqueza
atingindo a ponta e a pandemia já tenho sido superada. Ora, isto é
absolutamente improvável. Ainda que cresça até lá, a mudança econômica não será
suficiente para reverter a percepção e a condição negativa do eleitor. Estamos
falando de apenas um ano. O prazo é exíguo.
Fala-se ainda em Ezequiel Ferreira de Souza, o
presidente da assembleia. É um nome que não tem uma agenda clara e dependeria
de amplo acordo para a retirada de outros candidatos competitivos, o que é
improvável. Seu nome não é atraente em termos de uma postulação majoritária.
Há ainda a possibilidade de Carlos Eduardo Alves
sair para o senado. Até o presente momento, é o nome hoje mais competitivo para
a vaga. Ele já partiria da base natalense e de um bom recall no interior. Se
formar uma boa coalizão, vem forte. Em 2026, uma vez eleito senador, teria uma
candidatura ao governo risco zero.
Por fim, temos Jean Paul Prates. Prates exerce bem
seu mandato no senado. Porém, não tem entrada no Rio Grande do Norte. Ainda é
muito desconhecido, apesar de ter popularizado seu nome em Natal como candidato
em 2018. O senador petista dependeria de uma dobradinha com a governadora
Fátima Bezerra. E ela, por sua vez, teria de vir muito forte em 2022, com
condições para dispensar uma coalizão maior em prol de lancar também um senador
de sua base direta e com capital suficiente para surfar na campanha e fazer um
senador. Hoje, não está posto que a governadora pode abrir mão de uma coalizão
maior e isto pode frustrar uma possível candidatura diretamente petista ao
senado.
Mais uma vez, não desconsidero a importância dos
partidos, prefeitos, “estrutura” e apoios. Até toco em tais elementos em alguns
momentos. Só que eles não não razão suficiente para a vitória. Acredito mais
nos elementos estabelecidos acima. Que venha 2022.
Por Daniel Menezes*É sociólogo.
*É
procurador da República com atuação no RN aposentado.
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